sexta-feira, 25 de março de 2011

Arauto de abril 2011 na Casa AMA/ASSAMI e nas andanças, compartilhando Fare Insieme!

Abril, mês de Aniversários


da Casa AMA e Grupos de Auto Mútua Ajuda de Ijuí!!!!!!!!!!


A Assami apóia esta idéia, como uma alternativa de cuidado, mas não a única!!!










  • 01 de abril: O comitê Municipal de Prevenção de Acidente (Comupa0, formado há quase um ano, lança seu primeiro programa intitulado "Cuidando Vidas". Participante da ASSAMI/CASA AMA pariciparam da programação ocorrido no sindicato do Comerçio;






  • 05/04/2008 Aniversário Alcoólicos Anônimo (AA);Irmandade mundial de auto mútuo ajuda, formado por homens e mulheres que se ajudam mutuamente a manter a sobriedade e compartilhar suas experiências, forças e esperanças na recuperação pessoal e com outras pessoas que possam ter problemas com seu modo de beber. Estimula a recuperação pessoal e contínua dos dependentes químicos preservando sempre o anonimato em qualquer nível. A.A. não está ligado a nenhuma seita ou religião, nenhum movimento político, nenhuma organização ou instituição. O propósito primordial é a manutenção da sobriedade e a ajuda a outros dependentes alcoólicos a buscar sua recuperação. Alcoolismo e drogadição são frequentemente abordados como “Abuso de Substâncias” ou “Dependência Química”. Alcoólicos e não alcoólicos estão sempre convidados a frequentar as reuniões de A.A. Qualquer pessoa pode estar presente em uma reunião aberta de A.A. Mas somente aqueles que realmente tem problemas com a bebida podem participar de reuniões fechadas ou ingressar em A.A. como membro.






  • 06/04/ - Aniversário do Grupo Amor Exigente;O lema do Amor Exigente: EU TE AMO, MAS NÃO ACEITO O QUE VOCÊ FAZ DE ERRADO!. É um grupo internacional de auto mútuo ajuda, que tem como público alvo famílias atingidas pela realidade das drogas, dependentes químicos, educadores e orientadores em geral que tenham interesse neste assunto, sendo aberto também para toda comunidade que se posiciona na luta contra a problemática da dependência química. O estudo de comportamentos, princípios éticos e morais e a troca de experiências constitui a base da organização e funcionamento do AE que tem como um de seus objetivos levar uma mensagem de esperança para quem vivencia a realidade da drogadição ativa com histórias de vida e superação que nos mostram que existe vida após a droga sim! E vida de qualidade. Como programa educacional, busca avaliar atitudes e orientar a geração de mudanças de comportamento entre pais, familiares e sociedade, com consequente melhoria das relações e da qualidade de vida. “A tua exigência sem amor me revolta. O teu amor sem exigência me humilha. O teu AMOR EXIGENTE me engrandece!”.








  • 15 de abril: Será realizado um seninário de Saúde Mental no Fórum com a ASSAMI/CASA AMA e convidados, junto com o Ministério Público, com o Promotor Felipe. Haverá vagas limitada aos grupos Ama de Ijuí .




  • 23 de abril - ANIVERSÁRIO CASA AMA; Entidades que surgiram da necessidade que seus integrantes tinham de encontrar soluções e de compartilhar problemas de naturezas diversas. São pessoas que tem o interesse de produzir mudanças e cooperar no campo da saúde, assumindo responsabilidades uns com os outros, compartilhando experiências e oportunidades para melhorar a qualidade de vida de todos. São pessoas e famílias que descobriram que outros convivem também com os mesmos problemas e que ajudando uns aos outros, as soluções aparecem e a vida fica bem melhor. É POSSÍVEL ACONTECER MUDANÇAS! A Casa AMA integra a rede de Saúde Mental de Ijuí e é mantida pela ASSAMI . (Associação de Saúde Mental de Ijuí), fundada em 28 de Janeiro de 2008 e formada por familiares, usuários, profissionais da Saúde mental e apoiadores da comunidade.








sexta-feira, 4 de março de 2011

Arauto de março 2011 na Casa AMA/ASSAMI e nas andanças, compartilhando Fare Insieme!

Todas as quartas-feiras:

14h - Grupo de Arte-Terapia conduzido pela Otília, membro da Assami e colaboradora na Casa AMA;





Todas as quintas-feiras:

14h - Grupo Amor a Vida conduzido pela Sirlei, membro da Assami e colaboradora na Casa AMA;
















Todas as sextas-feiras:

17h - Reunião do Coletivo da Diretoria da Assami e Casa AMA;


















01 de março de 2011:

Aniversário de Lia, membro da Assami e voluntária na Casa AMA;

Participação no Fórum Permanente da Mulher na Câmara de Vereadores de Ijuí;

Participação no Dia de Luta das Mulheres Trabalhadoras do Campo e da Cidade, no município de Passo Fundo/RS, alusivo a 08 de março, na luta por uma vida sem agrotóxicos e sem violência;










02 de março de 2011:

Vice-Presidente da Casa AMA recepcionado no curso de Psicologia da Unijuí;













19h - Baile de Carnaval das Mulheres, no qual mulheres da Assami estiveram presentes;

04 de março de 2011:

Reunião do Comitê de Ética em Pesquisa da Unijuí, do qual a Assami participa;





Reunião do Coletivo da Diretoria da Casa AMA e Assami;






10 de março de 2011:


15h - Dia Internacional da Mulher, Roda de Conversa sobre a Auto Mútua Ajuda no Cotidiano das Mulheres;


23 de março de 2011:

Integrantes da Casa AMA/ASSAMI participaram o dia todo de uma atividade na Colonia Santo Antonio na programaçao do mês de março


26 de março de 2011:

9h- caminhada referente ao mês da mulhe, local: paça do centro da cidade

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Arauto de fevereiro 2011 na Casa AMA e nas andanças, compartilhando Fare Insieme!

  • Mês de Março/2011 - Casa AMA aberta Seg/Qua/Sex pela manhã e todas as tardes, contando com apoio dos membros e colaboradores da Associação de Saúde Mental de Ijuí;



  • Todas as quartas-feiras, tarde - Grupo de Arte Terapia - pintura em panos e outras atividades artísticas;



  • Todas as sextas-feiras, final de tarde - reunião do Coletivo da Diretoria da Assami e Casa AMA e colaboradores;


  • 11, 12 e 13 de fevereiro - participação de membro da Assami na 1a Festa Feira da Agricultura e Agroindústria Camponesa, Santa Cruz do Sul/RS;






  • 14 de fevereiro/2011 - aniversário de Lúcia Ottonelli Crescente;

  • 19 de fevereiro/2011 - retorno a Ijuí dos colegas Chilenos Paulina e Juan;

  • 23 de fevereiro/2011, noite - encontro dos membros do Instituto Sepé Tiarajú;

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

28 de janeiro de 2011 - 3 anos de ASSAMI!

ASSOCIAÇÃO DE SAÚDE MENTAL DE IJUÍ - ASSAMI, comemora na data de hoje TRÊS ANOS.... produzindo saúde mental FAZENDO JUNTOS, com aprovação de quatro novos associados em 22 de janeiro/2011 - Ivone, Dulce Veslasquez, Vilmar Veslasquez e Fioravante B. Ballin e na data de hoje - Rosemari Schott e Sidnei Almeida Conceição, perfazendo 72 pessoas como sócios/as interessados/as na defesa e construção da saúde mental, interessados em fazer junto, que só se se faz, FAZENDO JUNTO.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Datas comemorativas e Eventos diversos...

28 de janeiro de 2011 - Aniversário 3 anos de Associação de Saúde Mental de Ijuí.

Abril/2011 - Aniversário da Casa AMA;

18 de maio/2011 - Dia da Luta Antimanicomial;

Maio/2011 - 13 Fórum Paulo Freire;

Conferências Municipais, Regionais, Estaduais e Nacional de Saúde!!!!

1a Assembléia Geral Ordinária da ASSAMI 2011

ASSAMI – ASSOCIAÇÃO DE SAÚDE MENTAL DE IJUÍ

CONVOCAÇÃO
A Presidente da ASSOCIAÇÃO DE SAÚDE MENTAL DE IJUÍ, no uso das atribuições estatutárias, CONVOCA os associados da ASSAMI e convida colaboradores e simpatizantes para ASSEMBLÉIA GERAL ORDINÁRIA, a realizar-se em sua sede, na Casa AMA, dia 22 de janeiro de 2011, às 9 horas, em primeira chamada e às 9 horas e trinta minutos, em segunda e última chamada, para tratar da seguinte Ordem do Dia:
- Pauta:
1) Apresentação e análise do Relatório de Atividades de 2010 e do Relatório Financeiro e respectivo Balancete;
2) Apresentação e aprovação do Plano de Ação 2011;
3) Apresentação de novos associados;
4) Eleição para preenchimento da vaga de 2º tesoureiro;
- Assuntos Gerais.

Ijuí, 10 de janeiro de 2011.

Eloá Teresinha Bagetti
Presidente da ASSAMI

Arte e Saúde na Escola

Atividade interinstitucional que consiste em problematizar por meio da Arte Humorística situações do cotidiano, como Bullyng, violência, gravidez na adolescência, doenças sexualmente transmitidas, dentre outros aspectos.
A Assami/Casa AMa são parceiras desta iniciativa que está sendo desenvolvida por Luis Fernando e Alano, via PróArte Produções Artísticas.
Mais informações em breve!

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

13º FÓRUM PAULO FREIRE, Santa Rosa/RS


O Fórum Paulo Freire, é uma “instância permanente de diálogo e intercâmbio em torno de experiências e estudos relacionados à obra de Paulo Freire” (Andreola, “Pedagogia da Indignação”, 2000, p. 17-18).
Foi fundado em 1998, na UNISINOS – São Leopoldo, RS – durante o Congresso Internacional Paulo Freire. O primeiro encontro do Fórum foi realizado na mesma universidade nos dias 21 e 22 de maio de 1999 e contou com mais de 70 trabalhos inscritos.
Desde então o fórum “itinerou” por várias universidades do Rio Grande do Sul, voltando a acontecer, em 2008, na Unisinos, em 2009 na UFRGS, em 2010 na PUC de Porto Alegre e em 2011 será realizado na Unijuí, em Santa Rosa.
As reuniões anuais são realizadas, então, num sistema de alternância, em universidades da Região Sul em cooperação com entidades públicas, movimentos sociais e Organizações Não-Governamentais.

Quando ocorre: Segunda metade de Maio de cada ano, com inscrição de textos até o final de março. No ano de 2011, será realizado de 26 a 28 de maio de 2011, no campus da Unijuí em Santa Rosa, sob a coordenação conjunta da UNIJUÍ, URI, UFFS e Prefeitura Municipal de Santa Rosa.
Participantes: Pesquisadores em universidades, professores, gestores das redes de ensino e escolas, educadores vinculados aos movimentos sociais e ONG's e acadêmicos da área da educação.
Carga Horária: 16h
Onde: em Universidades Federais e Comunitárias do RS.
Certificado: É fornecido certificado de participação aos que estiverem devidamente inscritos.
Investimento: em torno de R$ 50,00.

Envio de trabalhos:
No ato da inscrição (pela internet);O trabalho deve estar vinculado a um eixo temático;Os trabalhos podem ser: texto, pôster, intervenção e expressão cultural;Cada participante pode ser autor de apenas 1 trabalhopodendo ser co-autor deoutros trabalhos.

Eixos Temáticos:
1. PAULO FREIRE e a Educação superior
2. PAULO FREIRE e a Educação do campo: resistência e construção de alternativas
3. PAULO FREIRE e os Movimentos sociais, economia solidária, educação e trabalho
4. PAULO FREIRE e a Educação de Jovens e Adultos
5. PAULO FREIRE e a Educação popular (ambientes diversos)
6. PAULO FREIRE e a Formação de professores
7. PAULO FREIRE e as políticas públicas da Diversidade, do Interculturalismo e dos direitos humanos
8. PAULO FREIRE e as Práticas educativas nas escolas da Educação Básica
9. PAULO FREIRE em diálogo com outros autores(as)
10. PAULO FREIRE e a Educação, comunicação e novas tecnologias
11. PAULO FREIRE Educação, saúde e cidadania
12. PAULO FREIRE Arte, cultura e educação
13. PAULO FREIRE e a Cultura de paz e resolução não violenta de conflitos

Contamos com a sua participação no 13 Fórum, que se aproxima.
Mais informaçoes: 3332.0411 – Depe/Unijuí.
Nota.: Material produzido pela Profa Elza M. F. Falckembach; postado por Lia.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Tempo dos Anjos - Um desejo de Asas!

Postado no Blog http://marialuizadiellooutrascompotas.blogspot.com/2010/12/divulgacao-i-tempo-dos-anjos-l-um.html. Acesso em 19 12 10.

Postado aqui, por se tratar de uma discussão sobre a clínica e o desejo e por achar que a Assami e Casa AMA tem sido, talvez, espaço para devir-anjo de algumas pessoas.....como diz o autor, uma outra opção no mercado da vida!

I - TEMPO DOS ANJOS - l - UM DESEJO DE ASAS
Escrito de Peter Pál Pelbart, em A nau do tempo-rei: sete ensaios sobre o tempo da loucura/ Rio de Janeiro: Imago Ed., 1993.


I - TEMPO DOS ANJOS - l - UM DESEJO DE ASAS

Wim Wenders mostrou pela primeira vez em circuito planetário como são e o que fazem os anjos numa metrópole contemporânea. Com Asas do Desejo ficamos sabendo, espantados, que eles são muitos. Só em Berlim contam-se às dezenas. Perambulam pelas cidades meio ao acaso, invisíveis, enfiados em grandes casacos, com o cabelo preso em rabicho, mãos no bolso, observando em silêncio o sofrimento dos mortais. Quando querem, ouvem os pensamentos dos homens, mulheres e crianças. Aproximam-se deles devagarzinho, inclinam a cabeça em direção ao ombro e escutam seus monólogos, suas preces, devaneios, anseios. O que faz uma anjo quando percebe que a desesperança invade a alma de um humano? Toca-lhe no ombro de leve, com a ponta dos dedos, e o sofredor se dá conta de algo a roçar-lhe o entorno, mas não sabe ao certo o quê. Intui uma presença estranha mas nada vê; sente como que um farfalhar de folhas, uma perturbação desconhecida, uma espécie de cintilância. E aí seu corpo caído retoma um vigor inesperado, o pensamento de repente bifurca para longe da morte, ocorre-lhe como que um pequeno renascimento.

Mas os anjos não são deuses. Eles não podem tudo. Por exemplo, não podem estancar a queda de um suicida do alto de um arranha-céu. Não podem dar trabalho a um desempregado. Tampouco têm o poder de agenciar parceiro para uma trapezista solitária. Nem sequer está ao alcance deles criar um público para um narrador envelhecido, num mundo que não quer mais ouvir suas histórias, pois prefere perder a memória. Os anjos não podem mudar a face do Planeta nem dirigir o curso do Mundo. No máximo podem tornar mais leve o fardo de uma ou outra vida, de um ou outro momento de uma vida ou outra. Um pouco como um terapeuta: essa disponibilidade para ouvir, para tocar, essa presença discreta que pode às vezes suscitar um novo começo — mas também essa impotência para determinar, para resolver, para viver no lugar de.

O que poucos sabem — e isto se aprende no filme — é que os anjos têm inveja dos homens. Eles vêem muita coisa, ouvem tudo, podem estar em todos os lugares, observam os humanos ora com espanto, ora com admiração, ora com compaixão — mas sempre com uma pontinha de inveja. Do que têm inveja os anjos? Da finitude dos mortais. Da sua fragilidade, da sua inscrição no tempo, do sentir frio, do sentir fome, do sentir doce, do esfregar as mãos uma na outra numa madrugada gelada, de sentir o calor de um copo de café esquentando o corpo, de ter saudades, incertezas, de morrer de amor e de ter medo da morte. A imortalidade dos anjos é para eles um cárcere cruel. Ela os aprisiona no tédio infernal do Mesmo, na repetitividade sem história, num eterno presente que é em si a imagem cinza de uma morte sem desfecho.

Curiosa inversão: então não são os homens os infelizes do filme, como seria de se esperar, mas os anjos. Sua permanência tediosa sobre a face da Terra, seu eterno flutuar por sobre coisas e homens, sua desencarnação assexuada, sua ahistoricidade, tudo isso está muito mais próximo do sofrimento da loucura do que da disponibilidade dos terapeutas. Pois há na loucura um sofrimento que é da ordem da desencarnação, da atemporalidade, de uma eternidade vazia, de uma ahistoricidade, de uma existência sem concretude (ou com um excesso de concretude), sem começo nem fim, corn aquela dor terrível de não ter dor, a dor maior de ter expurgado o devir e estar condenado a testemunhar com inveja silenciosa a encarnação alheia.

No filme de Wenders, um dia um anjo resolve encarnar. Vira um mortal de carne e osso, com frio, fome, sede, saudade, sangue e dor, tudo aquilo a que nós temos direito cotidianamen-te e que é o nosso quinhão precioso sobre esse planeta. O exanjo-recém-encarnado apaixona-se então pela trapezista solitária, e vive com ela um instante único, em que sente ter descoberto pela primeira vez a verdadeira eternidade. Não aquela eternidade vazia dos anjos, mas a eternidade cravada na fugacidade de um devir. Um pouco como diz o poeta: eterno enquanto dura. E o ex-anjo-recém-tornado-mortal, através desse instante diamantino, embarcou no que se poderia chamar de um devir-anjo. Ele não virou anjo, mas entrou num devir-anjo, o que é diferente. No fundo, é também o que a trapezista entristecida sempre buscara, um devir-anjo, fosse através de seus malabarismos circenses ou de sua letargia embalada em rock'n roll. É igualmente o que o narrador sem público buscava em sua nostalgia de história, ou os estudiosos da biblioteca gigante de Berlim. Cada qual a seu modo buscava um devir-anjo, tinha um desejo de asas. A religião, o amor, a literatura, o cinema, tudo isso oferece asas para um devir-anjo. Mas há uma condição: é preciso ser um mortal. Apenas os mortais têm acesso ao deviranjo. Os anjos mesmo estão condenados ao tédio eterno, a menos que eles encarnem.

Mas nós não acreditamos mais em anjos. Os anjos não existem. Se existem, são infelizes. Se são infelizes, mereceriam ser salvos. Em linguagem moderna diríamos: se sofrem, merecem ser curados. O que significa: merecem ser reconduzidos à condição de mortais, para aí sim poderem constituir um deviranjo. E alguns de nós, terapeutas de psicóticos, que nos encarregamos dessa tarefa insensata de ajudar a encarnar os anjos, o
que pretendemos com isso?

Traduzindo em miúdos, no contexto de nossas cidades trata-se do seguinte: um Hospital-Dia para psicóticos, ou um serviço público experimental podem ser muita coisa; entre outras coisas podem vir a ser um dispositivo institucional a mais de normalização do social. Parece óbvio, vago, primário, e no entanto nada mais perigoso. Um Hospital-Dia lembra às vezes a Nau dos Insensatos que Foucault descreve no início de sua História da Loucura, mas que ao invés de vagar à deriva das águas, como na Renascença, aportou em solo urbano, com todas as promessas e riscos que isso implica. Uma nau atracada, um pouco como as barcas-casa nos canais de Amsterdã, um tantinho flutuantes mas já sedentárias, numa indecisão saborosa entre o fluxo do rio e a fixidez da cidade. Um atendimento alternativo pode transformar-se facilmente numa extensão burocrática do Hospital ou do Estado urbano, num jardim de infância pedagógico, numa indústria de cura ou num depósito de estranhos personagens. Talvez ele efetivamente corra o risco de transformar-se num híbrido disso tudo se não conseguir refletir suficientemente sobre o seu lugar cultural numa sociedade que de algum modo tem coibido o devir-anjo de seus mortais. Eu ousaria dizer que às vezes vira anjo quem não consegue suportar ser mortal, mas isso também porque o ser mortal em nossas sociedades foi de algum modo expurgado do devir-anjo. Daí a ideia de que é preciso criar muitos modos de devir-anjo, os mais diversos, os mais múltiplos, os mais variados. Seria preciso engravidar o real com virtualidades desconhecidas de deviranjo, para que o tédio de ser mortal não vire uma camisa de força ainda pior do que o tédio de ser anjo. E isso tem tudo a ver com os terapeutas de psicóticos, que às vezes temos a mão leve e mágica dos anjos de Wim Wenders para a dor alheia, mas o mesmo tempo vemos nos pacientes anjos desencarnados buscando imanência. Não podemos oferecer-lhes, porém, a encarnação seca que nós mesmos suportamos mal e que frequentemente pensamos transcender com nossas histórias, drogas, aventuras, com nosso esforço em multiplicar nossos devires-anjo, em viver várias vidas ao mesmo tempo, muitas dimensões, em fazer proliferar o real para além da mortalidade mortífera que nos é proposta e imposta por todos os lados.

No fundo travamos uma briga encarniçada contra a pobreza de opções disponíveis no mercado da vida. O leque dos possíveis contém cada vez menos modelos de normalidade ou de anormalidade, cada vez menos e mais pobres formas de viver a familiaridade, a criação, a política, a conjugalidade, os modos de subjetivação, como se assistíssemos a uma homogeneização crescente de um social cada dia mais codificado. Nosso trabalho cotidiano mostra que socialmente temos pouco a oferecer como alternativas de vida a nossos pacientes, não porque sejamos estreitos ou mesquinhos, mas porque nossa configuração sóciohistórica tem restringido e pasteurizado sua diversidade potencial. Por isso, não creio que se possa desvincular a criação de dispositivos os mais diversos de sustentação para experimentações pluridimensionais num espaço terapêutico e a mesma criação num espaço extraterapêutico. Em ambos os casos trata-se de combater uma espécie de entropia subjetiva e social. Daí o proveito que poderíamos tirar da ideia de Félix Guattari, de que a heterogeneidade precisa ser produzida. Não basta reconhecer o direito às diferenças identitárias, com essa tolerância neoliberal tão em voga, mas caberia intensificar as diferenciações, incitá-las, criá-las, produzi-las. Talvez essa seja uma das coisas mais fascinantes e mais difíceis de fazer no trabalho com psicóticos; o multiplicar as formas de conexão, de linguagens, de abordagens, de entendimento. Pluridimensionar o campo. Recusar a homogeneização sutil mas despótica em que incorremos às vezes, sem querer, nos dispositivos que montamos quando os subordinamos a um modelo único, ou a uma dimensão predominante. Aceitar esse paradoxo de que quando um dispositivo está dando certo demais é que eleja não serve mais, que quando um grupo está demasiadamente bem sucedido alguma processualidade foi emperrada, que quando entendemos muito bem é porque deixamos de entender um bocado, que quando estamos muito sãos é porque já estamos muito é neuróticos.

Para retomar uma fórmula feliz de Jean Oury, um dos diretores da Clínica de La Borde, na França, é preciso conseguir o n-1. Ou seja, é preciso subtrair de um conjunto dado a unidade que o totaliza, sobrecodifica e homogeneiza. Se uma clínica tem n dimensões de funcionamento, por exemplo, espaciais, dramáticas, sonoras, linguísticas, investimentos e modos de existencialização possíveis, o mais difícil é conseguir abrir esse leque em direção à sua pluralidade, ao invés de reconduzi-la a uma unidade significativa qualquer. Mas por que será tão difícil assumir e intensificar essa multiplicação de dimensões? Parece haver nessa operação o risco de uma espécie de proliferação demoníaca, cancerígena, sem forma nem finalidade. Ao invés de um contorno para o mundo, de uma imagem de mundo reasseguradora, teríamos de fato um mundo sem uma imagem de mundo, monstruoso, sem modelo. Num dos belos livros de filosofia escritos no pósguerra (Diferença e repetição), Gilles Deleuze propôs substituir o que ele chamou de uma imagem do pensamento por um pensamento sem imagem. Imagem do pensamento significa grosseiramente uma forma à qual o pensamento está submetido. Ao contrário, forjar um pensamento sem imagem de pensamento, isto é, sem uma imagem prévia do que seja pensar (será isto possível? ou trata-se apenas de outra imagem do pensar?) pode implicar em abrir mão de uma forma, de um modelo. Um pouco como fez a arte abstraia, que ao dispensar a figuratividade pôde liberar cores, linhas e uma série de virtualidades pictóricas até então aprisionadas debaixo da representação figurativa1. O resultado é mais caótico e enlouquecido, porém mais rico e pluridimensional. Isso que ocorreu na pintura também acontece na literatura e na filosofia. Bastaria citar Jackson Pollock, James Joyce, Nietzsche, para ficarmos simplificadamente num exemplo eminente para cada domínio. Mas também na política pode estar em curso algo semelhante: com o desmoronamento do modelo clássico de socialismo no Leste europeu, o caminho fica desimpedido para se inventar um outro modelo, ou, ideia todavia mais vertiginosa, uma política sem modelo, uma política sem uma imagem de política a aprisionar-lhe as virtualidades. Sobre a clínica, porém, é difícil saber se ela precisa de uma revolução destas, se ela a deseja, se é capaz de provocá-la e, sobretudo, se ela a suporta. E a pergunta que imediatamente vem ao espírito é: Como fazer uma clínica sem um modelo de clínica quando no fundo está todo mundo atrás o melhor modelo? Quando já custa um esforço tão hercúleo achar um modelo, por que tornar-se iconoclasta?

Deixemos um pouco em aberto essa questão provocativa, mas não de todo. Mais do que abrir mão dos modelos — o que nos afundaria na intuição cega, que é o pior modelo — talvez na clínica seja preciso de algum modo repensar o estatuto do modelo. Por exemplo, injetando na própria ideia de modelo a precariedade que lhe é intrínseca, a fim de que ele possa constantemente derivar para longe de seu equilíbrio ordinário, liberando tudo aquilo que um modelo encobre ou o que lhe escapa, e que em geral é o essencial. Talvez também fosse útil submeter a noção de modelo à ideia de perspectiva no sentido nietzscheano; isto ao menos nos evitaria a ressonância pseudocientífica evocada pela ideia de modelo. Assim, ao invés de perguntar se tal modelo "é verdadeiro", "adequado", se "corresponde", se "representa" a realidade (psíquica, antropológica etc), perguntaríamos a que perspectiva tal modelo corresponde, isto é, de que tipo de vida tal modelo é sintoma, ou quais forças (ativas, reativas?) forjaram tal perspectiva, e com que interesses, no interesse de qual tipo de vida? Caso remetêssemos os modelos aos tipos de "saúde" que eles implicam, contornaríamos dilemas epistemológicos inúteis.

Num âmbito mais geral, e não especificamente da clínica, porém, o que parece evidente é que a expansão e a difusão de um modelo hegemónico de subjetividade e de sociabilidade meio esvaziado emperra e murcha nossos devires-anjo. Somos pequeninos e às vezes impotentes; como os anjos de Wenders, não está ao nosso alcance mudar a face da Terra ou dirigir o curso do Mundo. Mas a clínica talvez seja um lugar privilegiado para pensar essa intersecção entre políticas da subjetividade e virtualidades de devir-anjo. Nesse contexto uma coisa parece clara. Se na nossa clínica formos apenas os embaixadores de uma saúde triste e asséptica, todo nosso esforço terá sido em vão, com poucas chances de vingar. E isso por uma razão óbvia: a saúde triste oferece menos atrativos do que o tédio angelical da loucura. Resignação por resignação, não há porque trocar um tédio pelo outro. Essas coisas formuladas aqui intencionalmente de um modo simplista, em a tecnicidade da terminologia "psi" que às vezes nos dá a segurança de um modelo, são questões polémicas, complexas, discutíveis, cheias de implicações teóricas e práticas da maior relevância. Não é por outra razão que seria preciso retomar o leitmotiv inicial: o desejo de asas, ou a facilitação de múltiplos devires-anjo é essencial para que a construção de um atendimento alternativo não vire apenas mais uma empresa, um pouco mais sofisticada, com high technology, de burocratização do desejo. O fato de serem pequenas não necessariamente protege essas experiências inovadoras deste risco. Caberia dizer: tamanho pequeno não é documento. Os estudos de Michel Foucault mostraram de sobra que o poder é capilar, que ele não só incide omo também em parte é engendrado na mais minúscula dimensão. Mas, por outro lado, a história mostra que também randes revoluções às vezes começam em pequenos laboratórios, na cabeça e na prática de alguns poucos desvairados, na mais microscópica das agitações. Penso que é esse um dos nossos mais caros alentos.

O trabalho diário e a mão na massa são sempre mais maçantes do que as belas palavras, mas não se deve sob hipótese alguma abdicar das belas palavras, assim como não se deve abdicar das belas histórias, nem dos belos gestos, muito menos das belas intervenções — o que não dizer das belas e desvairadas viagens. Sobretudo delas, que num trabalho deste tipo só se consegue fazer quando se está devidamente acompanhado, isto é, ladeado por uma equipe audaciosa e tresloucada, que apesar da tentação crescente não aceita o papel exclusivo e perigoso de "operários da saúde", assumindo o risco de alçar voos inusitados. Num escrito sobre um trabalho meu, o psicanalista Gregório Baremblitt notou, de maneira graciosa: "Há infinitos modos de voar. Não é necessário escolher o de ícaro, nem muito menos o de Santos Dumont." Caberia acrescentar o seguinte. Talvez nossa modernidade tenha reduzido esses infinitos modos de voar unicamente a esses dois. Ora estamos de um lado, quando enlouquecemos, ora de outro, por exemplo, quando tratamos. É preciso muito senso estético, político, ético, clínico, demiúrgico até, para desmontar essa disjuntiva infernal. Necessitamos de muito espírito aventureiro para ir forjando asas, tanto no interior de uma instituição como fora dela, que nos permitam — a nós e a nossos pacientes — escapar a essa violência binária, que consiste em ter que optar sempre seja por um precipício abissal, seja pelo suave paraíso asséptico de uma estranha saúde, saúde sem desejo de asas nem um devir-anjo.
Setembro/1990

l Em Deleuze não se confundem em absoluto a imagem do pensamento e o modelo. A extrapolação é abusiva e corre por minha conta, com o propósito exclusivo de introduzir a questão dos modelos teóricos através de um ângulo de abordagem "escancarado".cooperação.sem.mando

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Sentindo beleza, nas profundezas de traçados versos...


O emigrante
Walter Frantz

Quando morre a esperança,
juntam-se os sonhos seculares,
dos velhos e doces lares,
a emigrar pelos mares.

Envoltos pela luz do luar,
ao singrar por bravas águas,
ressuscitam a esperança,
em outro lugar, além-mar!

Já sem os seus amores,
de antigos e distantes lugares,
deles as silenciosas dores
precisam suportar.

Porém, ao se encarnar,
em renovados sonhos,
nascem os primeiros albores
de outros e novos amores,
que as dores fazem aliviar.

De velhos sonhos emigrados
e esperanças renascidas,
entranham-se povoados,
florescem novas vidas.

Das vidas assim cumpridas,
quais esperanças floridas,
brotam novos lares,
outros olhares,
em novos lugares.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Pelos caminhos da vida.....

Nas reflexões sobre os caminhos da vida, conforme menciona o Prof. Walter, o mesmo escreve e nos brinda com uma poesia que pode contribuir as nossas reflexões, sobre os caminhos e que caminhos estamos percorrendo na vida.

Ei-la:

Pelos caminhos da vida, a aprendizagem
Prof. Walter Frantz
A vida vai...
A pobreza não vai!
A violência não cai!
Continuo a sonhar...
Sonhos de outrora,
sonhos de agora?
Dos grandes sonhos
o que resta sonhar?
Tudo vai devagar.
É preciso lutar!
Juventude, geração revolução!
Sonhos em vão?
Tempo perdido?
Decepção? Não!
No lugar da revolução, qual a lição?
Consciência
Educação
Ação
Cidadania!
A revolução pelo cidadão
A força da organização pela participação
Da utopia à cidadania: nova energia!
Da competição à cooperação: nova dimensão!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Projeto Ítaca e Redução de Danos - perspectivas de abordagem...!


UNIVERDSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE EDUCAÇÃO
LABORATÓRIO DE CIÊNCIAS E QUÍMICA DO CENTRO DE EDUCAÇÃO
Projeto Ítaca: redução de danos como ferramenta para práticas intersetoriais
Curso de formação:
Redução de Danos: ferramenta para a atuação no campo das drogas
Se partires um dia rumo a Ítaca,
faz votos de que o caminho seja longo,
repleto de aventuras, repleto de saber.
K. Kaváfis

I Seminário Regional do Sistema de Saúde e o desafio da Clínica Ampliada - HumanizaSUS!

Programação:
Contará com a participação de Gustavo Tenório Cunha, consultor da Política Nacional de Humanização - PNH/HumanizaSUS.

Data:
29 de novembro de 2010, no turno da manhã aberto ao público e a tarde, com o público vinculado a Secretaria Municipal de Saúde de Ijuí.

Realização:
Grupo de Trabalho HumanizaSUS - GTH SMS.
Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ.

Apoio:
Associação de Saúde Mental de Ijuí - Assami
Casa de Auto Mùtua Ajuda - Casa AMA


Aguarde mais informações....

Contato:
Casa AMA - 3332.7413
Unijuí - 3332.0460

Registros fotográficos do evento Pré-Fórum Paulo Freire!











Os registros fotográficos foram realizados por Spitz, membro do Grupo de Estudos Paulo Freire, doudorando em Educação nas Ciências/Unijuí.




sábado, 13 de novembro de 2010

Talvez, seja eu...

"Talvez seja eu, entre os senhores, o único de origem operária. Não posso dizer que haja entendido todas as palavras que foram ditas aqui, mas uma coisa posso afirmar: cheguei a esse curso ingênuo e, ao descobrir-me ingênuo, comecei a tornar-me crítico" dizia alguém que participava de um Curso, citado no livro Pedagogia do Oprimido de Freire (2005, p. 24).

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Paz e Terra, 2005.
Trecho selecionado por membro do Grupo de Estudos Freiriano na Casa AMA.